Ainda sinto de olhos fechados enquanto pinto esta tela
Ainda cheiro a policromia , entre pincéis e aguarelas
Ainda ouço quem me sussurra, as palavras mais belas
Ainda provo que há provas, que já tive o que não tenho
Ainda acredito que mantenho, pedaços de onde venho
Ainda me orgulho, de todas as folhas que risquei
Ainda sei as historias, de todas as personagens que criei
Ainda hoje me emociono, cada vez que penso nisso
Ainda me vês inventar sorrisos, para não deixar vestígios
Ainda me iludo demasiado, em truques de magia
Ainda faço malabarismo, para ser magico um dia
Ainda desprezo a batida e admiro a melodia
Ainda sou o reflexo da influencia, de quem me influencia
Ainda sinto a falta, de quem nunca esteve comigo
Ainda sei que sabes, que não deixo de estar contigo
Ainda temo a faca que toda a gente trás na meia
Ainda sinto saudade da diferença de sexta-feira
Ainda desenho sentimentos, nos sítios mais estranhos
Ainda sou ovelha branca, que não caminha em rebanhos
Ainda me movo por algo, que nem sequer existe
Ainda sonho criar alguém, como nunca antes viste
Ainda sou a vela, que acendes por esperança
Ainda estou na foto, que guardaste por lembrança
Ainda abraço o mesmo mar, ainda amo a mesma lua
Ainda conto segredos aos paralelos da minha rua
Ainda me afasto da futilidade, traição e mentira
Ainda sou especial como alguém disse que seria
Ainda falo comigo mesmo e gozo com os outros
Ainda olho para trás e na realidade vejo poucos
Ainda sinto ao meu lado, quem la sempre esteve
Ainda digo Obrigado, a quem por la se manteve
Ainda demoro a chegar, mas apareço entretanto
Ainda entre tantos, vou abrindo bocas de espanto
Ainda faço de cada nuvem, o meu melhor hotel
Ainda admiro e aplaudo, quem se mantém fiel
Ainda tenho milhões de palavras agarradas à pele
Ainda se recusam a sair até estarem no papel
Ainda não me seduz, o estilo pita de bordel
Ainda as vejo como crianças, de carrocel em carrocel
Ainda tenho um posto, composto por factos
Ainda não dispenso a flecha, encostada ao arco
Ainda escrevo demasiado, em vez de berrar que existo
Ainda tenho folhas que dizem que sou especialista nisto
Ainda me apresento por cá, com um novo manifesto
Ainda manifesto a vontade de me destacar do resto
Ainda não é arrogância, são composições genuínas
Ainda não é prepotência, são desabafos entre paginas
Ainda estou aqui, crava-me o indicador no peito
Ainda te faço entrar em transe perante o que sou feito
Ainda sou ave rara, que a época de caça não extingue
Ainda guardo em mim, informação via satélite
Ainda invisível a muitos, como rotação de hélice
Ainda procuro alguém, no meio de tantas musas
Ainda desperto desejo, entre massas confusas
Ainda hoje não me deito, sobre meras desculpas
Ainda provoco reacções como toque de mil medusas
Ainda destruo defesas, com a ousadia do tétano
Ainda rasgo oceanos, com a mesma solidez de ébano
Ainda te faço falta ?! então abre-me e rouba-o
Ainda não és capaz ?! então tem cuidado e pousa-o
Ainda sem motivos para confetis, vivo com sede
Ainda me embebedo em sonhos de trapézio sem rede
Ainda dei tudo por nada, sobrou o inexistente
Ainda falo com a alma, entre beijos d'olhar diferente
Ainda continuo transparente, talvez em excesso
Ainda busco o sentimento que vire tudo do avesso
Ainda há voltas em perspectiva mas não muda o que peço
Ainda quero que esteja limpa a mão que lhe embale o berço